OUR CHALLENGE IN THE HEART OF BRAZIL
DOI:
https://doi.org/10.46765/2675-374X.2020v2n1p13-14Resumo
Diante da maior crise de saúde do século – A Pandemia Pelo Novo Coronavirus, vimos duas ondas se instalando na sociedade: a da incredulidade e a do medo. A questão foi por diversas vezes politizada e o enorme quantitativo de publicações científicas tornaram a discussão muito polêmica e a sociedade cada dia mais confusa e insegura.
O Distrito Federal, localizado no coração do Brasil, com posição geográfica central e politicamente estratégica, foi um dos primeiros locais do Brasil a iniciar, sob decreto público, medidas radicais de isolamento social (tais como fechamento de escolas, faculdades, comércio, e outros) ainda em meados de março/2020. Somente as ditas “atividades essenciais” continuaram funcionando. Quando tais medidas foram adotadas, a cidade possuía pouco mais de 50 casos confirmados.
A preocupação com a pandemia moveu toda a malha de assistência a saúde local, com gastos financeiros homéricos por parte dos hospitais com testagem maciça para Coronavirus e redução no quantitativo de cirurgias eletivas. Fluxos foram feitos e refeitos semanalmente, as vezes em menos tempo, seguindo as recomendações de Boas Práticas periodicamente publicadas por centros que viveram o pico da pandemia antes de nós.
A Unidade de Transplante de Medula Óssea, tradicionalmente considerada área extremamente sensível, ganhou especial foco e inúmeros esforços se desenharam para que a mesma fosse virtualmente uma área COVID free. O olhar dos médicos ao longo desse processo também foi muito heterogêneo, e se alternaram entre destemor e extremo temor. Encontrar um equilíbrio e proporcionar ambiente seguro para a realização dos procedimentos foi um enorme desafio, cuja luta e construção ocorrem diariamente até hoje.
Apesar de se tratar de um momento social, político e econômico delicados, não seria adequado sair atirando para todos os lados como uma guerra. A criação de novos fluxos, revisada e modificada periodicamente, foi realizada a partir de intenso envolvimento e trabalho coletivo da direção do hospital, comissão de Infectologia, médicos e equipe multisciplinar. As políticas de Boas Práticas publicadas periodicamente pelas Sociedades Médicas de Infectologia e Transplante de Medula Óssea nortearam nossos protocolos locais.
Dentre as principais medidas adotadas estão a testagem de pacientes e acompanhantes com PCR antes da internação, proibição de visitas e uso de paramentação reversa, que embora controversa, foi utilizada por potencialmente reduzir o risco de transmissão de coronavirus por profissionais de saúde portadores assintomáticos. Além disso, aplicado screening diário de sintomas respiratórios para todos os acompanhantes e funcionários da unidade, a fim de identificar casos-suspeitos e afastá-los antes do contato com os pacientes. Tais medidas foram cruciais para os excelentes resultados alcançados e para reforçar a relação de confiança das equipes médicas com o hospital.
Segundo dados publicados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos – ABTO, no primeiro semestre de 2020, foram realizados 31 transplantes em duas instituições que atendem predominantemente pacientes do SUS (3 alogenicos e 28 autólogos) e 23 transplantes no serviço privado (18 autólogos e 5 alogênicos) – representado por dois hospitais privados de Brasília. O pico da pandemia no DF ocorreu em meados de julho e agosto de 2020, com períodos de importante sobrecarga na estrutura hospitalar nos setores público e privado. O esgotamento dos recursos provocado pela pandemia associado a questões institucionais prévias comprometeu a assistência a pacientes adultos candidatos a TMO do SUS. Tal fato gerou importante demanda de pacientes para centros em outras regiões do país associada a aumento na dificuldade de deslocamento e acolhimento desses pacientes no cenário da pandemia.
No setor privado, viu-se um trabalho forte e bem estruturado, que permitiu a continuidade do programa sem prejuízos na qualidade da assistência ou nos desfechos esperados. Até o momento, não tivemos casos de óbito por COVID19 no cenário do transplante de medula óssea em Brasília, reflexo dos esforços e fluxos desenhados citados anteriormente.
Nesse momento, estamos vivenciando redução importante do número de casos de COVID19 no DF, sendo possível vislumbrar momento de expansão no quantitativo de pacientes em processo de transplante, provável reflexo do adiamento do tratamento para casos não urgentes durante o pico da pandemia nos dois meses anteriores.
Após seis meses de vivencia e enfrentamento contra o vírus, é fundamental reconhecer a forte presença do espírito de cooperação, tolerância e paciência que se instalou em todos os cenários que permeiam o TMO, associado a enorme amadurecimento e crescimento de todos os envolvidos. O “novo normal” incomoda porque se caracteriza por restrições impostas pela pandemia e não pelas nossas escolhas e preferências, mas acima de tudo simboliza a nossa capacidade de adaptação e resiliência. Somos personagens fundamentais nesse importante momento histórico, e levamos com convicção a vontade de continuar pulsando no coração do Brasil.