ESTUDO DA ASSOCIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO A AGENTES GENOTÓXICOS E SÍNDROME MIELODISPLÁSICA OU LEUCEMIA MIELÓIDE AGUDA SECUNDÁRIA EM PACIENTES ATENDIDOS EM UM SERVIÇO AMBULATORIAL DE REFERÊNCIA NO CEARÁ
DOI:
https://doi.org/10.46765/2675-374X.2023v4n3p203Resumo
Objetivos
As síndromes mielodisplásicas (SMD) consistem em um grupo heterogêneo de doenças com características clínicas, laboratoriais e patogênese abrangentes, porém, têm em comum um defeito clonal nas células progenitoras hematopoiéticas. Caracterizam-se por citopenia no sangue periférico com medula óssea normocelular ou hipocelular com presenças de alterações displásicas (>10%) em uma ou mais linhagens hematopoiéticas. Estudos epidemiológicos têm demonstrado a associação entre a ocorrência de SMD e LMA e a exposição a fatores genotóxicos. Logo, o presente estudo tem como objetivo associar as alterações hematológicas em portadores de SMD e LMA com as condições de risco ambientais/ocupacionais associadas às mesmas em um serviço especializado em hematologia.
Métodos
O estudo foi aprovado pelo conselho de ética do HUWC.
Trata-se de um estudo observacional, prospectivo e retrospectivo, através de pesquisa em prontuário de pacientes. O estudo foi desenvolvido no principal serviço de referência em hematologia do estado, localizado no ambulatório de doenças onco-hematológicas do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), em Fortaleza, Ceará. A população deste estudo consistiu em adultos de ambos os sexos, com diagnóstico de SMD e/ou LMAs confirmado pela clínica e exames laboratoriais, em acompanhamento ambulatorial que foram atendidos no período de agosto de 2021 a junho de 2022, tendo sido recrutados 50 pacientes. Foram excluídos do estudo aqueles pacientes que não residem no Ceará, ou que possuíam diagnóstico de outra doença oncológica.
Resultados
A amostra coletada concentra 50 pacientes que estavam em atividades terapêuticas no Serviço de Hematologia do HUWC, com uma idade média de 67.8 anos. Dentre esses, 14 pacientes (28%) representavam o sexo masculino, enquanto 36 pacientes (72%), representavam o sexo feminino.
No que tange à situação de domicílio, 6 pacientes (12%) moram em zona rural, enquanto 44 pacientes (88%) moram em zona urbana. Nesse sentido, relatou-se que 30% desses pacientes moram em residências próximas a indústrias (14%) e áreas agrícolas (16%).
Dos pacientes entrevistados, 47 possuem diagnóstico de síndrome mielodisplásica; enquanto 3 possuem diagnóstico de leucemia mieloide aguda. Desses, 11 pacientes informaram ter relatos de doença hematológica semelhante na família. Dos 50 pacientes, 35 (70%) afirmaram ter tido contato com fatores genotóxicos; destes: agrotóxicos (30%), metais (6%), solventes (38%), tintas e vernizes (38%) e radiação ionizante (40%).
Discussão
Diante disso, foi visto que número considerável (30%) de pacientes moram em regiões de vulnerabilidade relacionadas à exposição a agentes genotóxicos, como indústrias, que tendem a despejar dejetos, possivelmente tóxicos, nas proximidades e como áreas agrícolas, que utilizam pesticidas, substâncias químicas comprovadamente cancerígenas. Além disso, foi descrita exposição de 70% da amostra a solventes, tintas e radiação, sendo esta última a mais relatada, contribuindo à hipótese do estudo.
Conclusão
Portanto, foi encontrada associação relevante de fatores ocupacionais e ambientais com a etiologia da SMD e LMA, contribuindo, assim, para o conhecimento sobre fatores desencadeantes de tais doenças hematológicas, possibilitando melhor percepção da conjuntura de exposição dos pacientes da região. Reforça-se a necessidade de mais estudos, de caráter multicêntrico, com grandes amostras de pacjentes, visando ao maior conhecimento sobre medidas profiláticas e estratégias terapêuticas individualizadas.
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